sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Manifesto Nacional de Professores



Acabo de ler no site, www.esquerda.net, que no dia 8 de novembro haverá uma grande iniciativa nacional de Professores, para derrotarem a política educativa do Governo.
No Brasil? Claro, que não né?! A manifestação será em Lisboa, contando com a presença de todos os professores e envolvidos na educação portuguesa.
O Manifesto tem como meta que "é urgente relançar a escola pública pela igualdade e pela democracia, contra a privatização e a degradação mercantil do ensino, contra os processos de exclusão e discriminação. Uma escola exigente na valorização do conhecimento, e promotora da autonomia pessoal contra a qualificação profissionalizante subordinada. (...) ".
O pasmo, "claro que não", ao me referir do movimento não ser no Brasil é por que, por aqui, vai tudo muito bem! Os professores estão satisfeitos com a política educacional do país, estão de acordo com as avaliações que colocam em "prova" suas capacidades de ensinar. Recebem um salário justo. Estão de acordo com a aprovação automática, (ops!), digo, com a progressão continuada. Realmente presenciam a inclusão nas salas de aula. Estão seguros, e quase nem apanham dos alunos. E ao final do ano, gozam de férias felizes por verem o desempenho dos alunos em avaliações "cretinas", como a "provinha Brasil".

Alguma ironia de minha parte?
Imagina! Não há nenhum movimento de professores no Brasil, logo, está tudo bem, não é mesmo?


(Ah, se eu aguento!!!!)

sábado, 18 de outubro de 2008

Falando um pouco de amizade


Estranho reler o que escrevi ontem. O futuro é mesmo um presente novo a cada fração de segundos. E sem demagogias, como isso é maravilhoso!
O fato é que pessoas fazem toda a diferença na nossa vida. Pessoas reais. Com diferenças, particularidades, segredos, histórias de vida, caminhos, metas, destinos. Não especificamente "pessoas" quaisquer, mas àquelas que podemos com segurança dizer "amigos". Um palavra gostosa de pronunciar, "amigos". Por toda a terra, por todos os cantos que haja gente. Gente boa, má, louca, esquisita, estranha, religiosa, hipócrita, carente, seja lá como for, todos buscam pelo menos um amigo. Tenho poucos amigos, mas aos poucos, alguns desses se revelam os melhores do mundo. Eu creio na amizade sincera, fiel, intensa.
Não é fácil ser amigo. É necessário doação. Carinho, às vezes, no meio do dia. Um afago através de recadinhos. Preocupação. Sinceridade. Cuidado. Cultivo. Bondade. Amor. Muito amor.
Ontem revi um antigo amigo. Vivi uma porção de saudades que concentrei na presença única e especial dele. A cada toque, a cada movimento do seu sorriso, a cada carinho, um sentimento grandioso invadia novamente o meu ser. Afirmando o tempo todo que o mesmo tempo que separou, trouxe à tona, como um vulcão, a força de um abraço que nos uniu novamente, selando uma amizade que permanecerá para sempre.
Ele, querido Dumbo, como carinhosamente é merecido chamá-lo, em homenagem ao personagem clássico da Disney. O elefante que com o ratinho compartilha de uma amizade sincera e que, juntos são a pura atração do circo onde vivem. Acho que somente agora entendo que esse apelido do meu amigo é na verdade uma metáfora para todo esse ser humano fantástico que, como no filme, tem o poder de voar, e de ser a estrela da noite sem ser soberbo ou arrogante.
A noite passou num piscar de olhos, como acontece com tudo que é bom. O tempo também tem essa faceta difícil de driblar. Mas como foi bom reencontrá-lo, partilhar da sua companhia, poder ouvir: "Amiga, basta querer e a gente não vai nunca se perder um do outro". Como foi bom receber seu abraço, trocar calor humano, renovar as energias.
Há tempos não chegava de manhã em casa. Dormi apenas uma hora e fui trabalhar na Feira de Ciências da escola. Nunca imaginei que o mal estar do meu estômago me traria o gosto da alegria de viver.
A manhãzinha chegou com chuva fresca e saborosa.
Olhei para o céu e apenas agradeci.
Em minha face um sorriso que não cabia em todo meu semblante.

Obrigada Deus por todos os meus amigos.






sexta-feira, 17 de outubro de 2008


Se em mim insiste "um ser",
não estou só então?

Nada não.
Apenas me sentindo "meio de canto"
(...)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Pérolas da sala de aula

Ontem preenchia o diário de classe quando fui interrompida pelo Luíz:
" Professora você acredita em Deus?"
" Acredito sim Luíz..."
"Eu também professora..."
(Luíz deu uma volta no mesmo lugar e prosseguiu)
"Sabe professora, eu acredito em Deus, mas eu nunca vi Ele."
"Ah, Ele fica dentro do seu coração."
(Luíz deu mais uma volta no mesmo lugar e continuou)
"Acho que vou cortar o peito e tirar o meu coração fora. Quero tanto ver Deus!"
E nesse exato momento somos interrompidos por uma funcionária da escola que a tudo escutou e deu seu pitaco:
"Deus está nas coisas bonitas que você vê. Está nas atitudes boas, no abraço do amigo. Nos sentimentos bons, entende?"
Luíz olha para todos os lados e dá como resposta apenas uma "erguidinha" de sombrancelhas.
Então seu melhor amigo, Miguel, compreendendo que Luíz não ficara satisfeito com a resposta, lhe diz com toda alegria (ignorando totalmente o que disse a funcionária):
"Amigo você quer mesmo ver Deus?"
Luíz, (como quem tem sede de resposta), "Quero!"
"Ah, então é só você ir na minha igreja que tem uma fotografia dele lá, você precisa ver!"
(...)


Miguel e Luíz


(Mal sabe o querido Luíz que as perguntas apenas começaram.
E que a resposta que ele procura é bastante relativa.)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Só o que está morto não muda"


A rotina vem aborrecendo-me demais. Sabe quando você fica com a sensação de que tudo está ligado no maldito automático? Pois é! Decidi então, desde segunda-feira, que vou começar a mudar o que posso. Algumas atitudes simples, que farão alguma diferença em meu cotidiano.
Comecei então pela sala de aula. Os alunos sempre sentam da mesma maneira, sozinhos e de frente para mim. Pôxa, eles têm apenas 7 anos de idade, me angustia vê-los dispostos dessa forma, sabendo que assim será até a faculdade. Somente agora pode ser de outro jeito, então coloquei-os em grupos espalhados pela sala de aula. Rendeu mais sorrisos, união, e um outro jeito meu, de ser e estar na sala de aula para ensinar alguma coisa.
Fui caminhando à escola. Voltei também caminhando, porém por ruas diferentes da ida. Não imaginava que essa atitude me faria tão bem!
Como é bom ter pernas e pés sentindo-se capaz de ir e vir. Ter o prazer de andar a cada instante, por um pedaço de chão diferente.
Como é espetacular ter olhos e poder enxergar tudo ao meu redor. Observar pessoas, reparar suas fisionomias, o jeito como caminham. A beleza individual. A graça por sermos únicos, mesmo sendo vários da espécie.
Ver a arquitetura das casinhas antigas do centro da cidade. Olhar pra o chão e ver os desenhos que vão se formando, pelo simples fato de que pessoas e mais pessoas passaram e passam por alí todos os dias. Ver as plantas e os animais. Sentir os diferentes cheiros dos lugares. Recordar momentos já passados por essas ruas. Pensar que de todos os lugares do mundo, eu, por algum motivo, pude estar alí naquele determinado momento, recebendo tudo isso como uma dádiva de Deus.
Parece pouco?
A vida só é pouca para aqueles que passam por ela sem ter nunca se dado conta de todos esses sintomas de vida. É claro, não serei hipócrita dizendo que serei assim todos os dias, mas é bom às vezes se dar conta de que a vida é rara.
Cheguei em casa maravilhada. O copo de água foi muito bem recebido por todo o corpo, mas não foi o mesmo de todos os dias. Esse líquido tão poderoso que é a água, nesse momento teve realmente o sabor de uma fonte, a fonte VIDA!
Também consegui dormir cedo e leve, o que a bastante tempo não conseguia, permitindo sempre que problemas atrapalhassem a hora sagrada do sono.
E para finalizar esse relato das mudanças que apenas comecei, nada melhor para traduzir-me que a poesia de Alberto Caeiro:

“O meu olhar é nítido como um girassol/Tenho o costume de andar pelas estradas/Olhando para a direita e para a esquerda/E de vez em quando olhando para trás/E o que vejo a cada momento/ É aquilo que antes eu nunca tinha visto/E eu sei dar por isto muito bem...Sei ter o pasmo essencial/Que tem uma criança/Se, ao nascer/Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momento/ Para a eterna novidade do mundo/Creio no mundo como num malmequer/Porque o vejo. Mas não penso nele/Porque pensar é não compreender.../ O mundo não se fez para pensarmos nele/(Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.../Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.../Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,/Mas porque a amo e amo-a por isso/ Porque quem ama nunca sabe o que ama/ Nem sabe por que ama nemo que é amar.../Amar é a eterna inocência/E a única inocência não pensar” (O Guardador de Rebanhos, II).

A vida é boa!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Me and You and Everyone We Know"

Já fazia algumas semanas que o Marcos, meu amor, vinha me falando "Amor, você tem que assistir esse filme (...)". Minha memória é totalmente precária quando o assunto é guardar nomes de qualquer coisa que seja. Mas me recordo que essa frase vinha junto com o nome do tal filme em inglês. Confesso que ando bastante preguiçosa para assistir filmes "cults", estou mais para "rever" filmes que gosto (independente da categoria), do que propriamente para "ver" filmes novos. Talvez, em decorrência disso, ainda não havia dado crédito ao meu amor, e até então, andava em falta com ele por simplesmente dormir em todos os últimos filmes.
Mas felizmente ontem, numa noite inusitada (obrigada amor!), assistimos "Me and You and Everyone we Know", um filme de Miranda July, que encanta por ser escritora, diretora e que interpreta Christine, uma artista iniciante tentando um lugar ao sol, nesse vasto e complicado caminho do reconhecimento.
O filme demonstra as inter-relações existentes na vida de Christine, Richard (John Hawkes) e outros personagens que circundam pelo filme de modo que, cada um tem um jeito próprio e pessoal de lidar com a solidão. Sem com que isso aparente tristeza, e sim um jeito honesto de encarar e viver os tropeços da vida.
É um filme que REcria a arte de um modo realmente criativo, descartando efeitos especiais em troca apenas de um refinado olhar, som, fotografia e lugar.
Um filme que podemos nos ver imersos de particularidades que são ao mesmo tempo nossas e universais.
Vale a pena conferir!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"Formigas que trafegam sem porquê"


De uns tempos pra cá, quase todos os dias sou abordada dentro do ônibus, ainda parado no Terminal Central de Piracicaba. E sempre, (sem brincadeira), é a mesma pergunta que me fazem:
"__Moça, esse ônibus sobe a XV?"
Eu realmente não sei o que acontece, e por que isso vem me incomodando tanto.
Mas ontem fiquei pensando "Por que sempre eu?". Tem o motorista, tem diversas senhoras e senhores, estudantes, todo tipo de morador dessa cidade muito antes de mim, e por que justamente eu?
Será que pareço simpática? Bem instruída? Professora?
Será que pareço boa? Inspiro confiança nas pessoas? Por que será, hein?!
Fico com vontade de perguntar depois "Viu, só uma perguntinha, por que você me escolheu pra tirar a sua dúvida sobre a subida do ônibus pela famosa XV de Novembro?".
E se fizesse a pergunta, a pessoa teria uma resposta? Creio que certamente ela responderia: "Não sei!", ou então "Sei lá!".
As pessoas são condicionadas o tempo todo a se olharem e agirem como máquinas ambulantes.
Levam o famoso dito popular "Quem tem boca vai a Roma", ao pé da letra. Ninguém leva em si, enquanto caminha pelas ruas de qualquer lugar, alguma coisa do tipo "Quem vem do lado oposto?".
Enfim, ficaria decepcionada com a resposta, por isso jamais faria a pergunta. Prefiro ficar apenas com uma boa impressão de mim mesma.


(O mais irônico desse fragmento é que cada dia pego um ônibus diferente para ir ao trabalho, o que faz com que eu nunca guarde qual deles sobe ou não a XV de Novembro. Conclusão, vivo dando sempre a mesma resposta, "não sei". Logo, vivo decepcionando as pessoas).