quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O que seria do doce se não fosse o amargo?

Passo por pouco mais da metade do período destinado as minhas férias. E entre tantos momentos que tenho reservado para esses dias, __como encontros e reencontros, cumprimentos e despedidas em rodoviárias, leituras, músicas, meditações, orações, cinema, filmes e mais filmes, __ também me permito fazer uma coisa com a cara, o sabor e o tamanho da preguiça "saudável". Falo de nada mais banal que assistir, no meio da tarde de uma segunda-feira, à novela da Sessão da Tarde, mais especificamente "Mulheres apaixonadas". É uma verdadeira delícia. Enquanto assisto, me surpreendo com as inúmeras vontades que perpassam por minha cabeça, durante esse momento "raro" de cultura inútil. E algumas vontades acabam sendo tão contraditórias como os acontecimentos da nossa vida.
Hoje, por exemplo, senti uma vontade que há muito tempo não sentia. Vontade de chupar limão com sal. Pode parecer estranho, mas é uma vontade totalmente ligada a momentos verdadeiramente humanos. Lembranças chegaram-me como algo por acontecer dentro de mim, por simplesmente realizar o desejo de chupar o meu limão com sal. Desde o momento de descascá-lo, até preparar o pratinho com sal um longa metragem, na velocidade da luz, passou por meus pensamentos. Foi como se eu estivesse em cima do pé de limão da casa da minha avó, com todos os primos e a tia mais "audaciosa" conosco, nessa aventura. O fato é que meu pai não gostava da idéia de "chupar limão" pela "lenda" cultural de que limão "afina o sangue", algo que passei a infância inteira achando que era verdade, e só bem mais tarde descobri que isso tudo não passava de "história do imaginário popular". Mas enfim, até conseguirmos subir na árvore, descascar e chupar os limões, muitos risos, frio na barriga e até picadas de formigas faziam parte de toda a trajetória. Era uma árvore bastante grande e me lembro claramente de um dos primos alcançar o topo mais alto e ficar todo orgulhoso por isso. Dalí, surgiam brincadeiras e fantasias, mas tudo envolvendo os limões tão desejados por nós.
A lembrança acabou tornando-se tão forte, que quando me dei conta estava com "água na boca", como a muito tempo não percebia no interior dos lábios. Levei então o limão até a boca e o paladar entregou-se a saboreá-lo.
O mais engraçado de chupar limão para mim, é que sempre que termino de chupá-lo tenho uma vontade incrível de ingerir algo doce, imediatamente. E quando recorri à cozinha da mamãe para ver que doce me satisfaria, deparei com um maracujá. E lá fui eu abrir o maracujá e enchê-lo de açucar. Na primeira colherada, a sensação foi como se nunca antes houvesse sentido tão perfeitamente o sabor de algo doce.
Depois de realizado esse último desejo tive um acesso de risos. Meu Deus! Que louca contradição, limão com sal versus maracujá com açucar. Confesso que fiquei me visualizando de cima, e de repente me veio uma idéia do que somos, ou mais precisamente de como é feita a vida.
Os momentos amargos nos servem de base para valorizarmos os doces, e vice-versa. Amargo, doce, só Deus sabe a dose certa de cada um para a nossa vida. Muitas vezes o amargo é o que primeiro nos traz os sintomas de vida, e é de dádiva divina que saibamos degustá-lo para aprendermos da melhor maneira, e assim, fortalecidos de sabedoria, sair em busca do doce que jamais seria tão doce se não fosse o amargo.