sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vinicius e Gabriell


No começo do ano, no momento de ir embora, descia até o ponto de ônibus e observava que imediatamente os meninos, (principalmente o Vinicius), paravam de brincar no parque para me "cuidar" de longe, até que o ônibus chegasse. Era um olhar compenetrado e muito afetuoso. Que me envolvia e me transbordava a sensação de proteção e aconchego. Então, quando o ônibus finalmente chegava no ponto, eles levantavam suas mãos e me acenavam dando um "tchau", permaneciam assim até que o ônibus sumisse na curva...

O tempo foi passando e a intimidade entre nós cresceu a ponto de sermos mais que professora e alunos.
Hoje, eles descem segurando o meu material e quando chegamos no ponto de ônibus a conversa flui tão agradável que, às vezes, mesmo cansada do dia de trabalho eu torço pro ônibus demorar um pouco mais. Eles me contam sobre suas venturas e aventuras nas ruas do bairro. Me falam de seus segredos de menino, "Professora não conte pra Gabi, mas eu gosto tanto dela...".
Além das conversas que trocamos fico observando muito o olhar deles que não se desligam um minuto do tal ônibus chegar, para que eu não venha a perdê-lo, "Já pensou se você perde professora, cansada como você está?" (...)
Eles são muito amigos, mas ambos morrem de ciúmes um do outro comigo, o Gabriell um pouco mais, capaz de chorar e enfezar numa briga só pra ter certeza do meu apreço imenso. Por outro lado, o Vinicius tira a maior onda com o sentimento do amigo, rindo para deixá-lo sem graça.
(...)
O cotidiano com os meninos tem me ensinado muito sobre o mundo, as pessoas, os sentimentos, as confusões, os sonhos...Ahh, os sonhos! E me faz lembrar fortemente de uma cena do filme "Albergue Espanhol", onde o personagem com uma fotografia de infância nas mãos, (refletindo sobre sua vida), diz mais ou menos assim:
"De todos os meus "eus" esse é o único que não posso decepcionar...".
Acho que estar com as crianças todos os dias me faz pensar como o personagem do filme, e aflorar cada vez mais o meu lado "infantil".
Eu sou um bocado como o Gabriell, sou ciumenta e chorona. Sou exatamente apaixonada como o Vinicius é pela Gabi. Sou bastante cuidadosa para que os amigos "não percam o momento de viver a viagem", sou facilmente enfezada numa briga por aquilo que sinto e acredito...
Pensando bem, eu não quero amadurecer. Os anos se passarão por mim e quero ser convicta que nunca deixarei a minha menina ficar doente dos olhos. Deixarei ela agir por mim toda vez que "o adulto balançar". E sem pudor nenhum e nenhuma vergonha aceito a definição de ser "infantil". Quero chegar bem velhinha e poder me sentir sempre assim, "infantil", afinal:

"Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão..."


Sinceramente,
Daya