quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Só o que está morto não muda"


A rotina vem aborrecendo-me demais. Sabe quando você fica com a sensação de que tudo está ligado no maldito automático? Pois é! Decidi então, desde segunda-feira, que vou começar a mudar o que posso. Algumas atitudes simples, que farão alguma diferença em meu cotidiano.
Comecei então pela sala de aula. Os alunos sempre sentam da mesma maneira, sozinhos e de frente para mim. Pôxa, eles têm apenas 7 anos de idade, me angustia vê-los dispostos dessa forma, sabendo que assim será até a faculdade. Somente agora pode ser de outro jeito, então coloquei-os em grupos espalhados pela sala de aula. Rendeu mais sorrisos, união, e um outro jeito meu, de ser e estar na sala de aula para ensinar alguma coisa.
Fui caminhando à escola. Voltei também caminhando, porém por ruas diferentes da ida. Não imaginava que essa atitude me faria tão bem!
Como é bom ter pernas e pés sentindo-se capaz de ir e vir. Ter o prazer de andar a cada instante, por um pedaço de chão diferente.
Como é espetacular ter olhos e poder enxergar tudo ao meu redor. Observar pessoas, reparar suas fisionomias, o jeito como caminham. A beleza individual. A graça por sermos únicos, mesmo sendo vários da espécie.
Ver a arquitetura das casinhas antigas do centro da cidade. Olhar pra o chão e ver os desenhos que vão se formando, pelo simples fato de que pessoas e mais pessoas passaram e passam por alí todos os dias. Ver as plantas e os animais. Sentir os diferentes cheiros dos lugares. Recordar momentos já passados por essas ruas. Pensar que de todos os lugares do mundo, eu, por algum motivo, pude estar alí naquele determinado momento, recebendo tudo isso como uma dádiva de Deus.
Parece pouco?
A vida só é pouca para aqueles que passam por ela sem ter nunca se dado conta de todos esses sintomas de vida. É claro, não serei hipócrita dizendo que serei assim todos os dias, mas é bom às vezes se dar conta de que a vida é rara.
Cheguei em casa maravilhada. O copo de água foi muito bem recebido por todo o corpo, mas não foi o mesmo de todos os dias. Esse líquido tão poderoso que é a água, nesse momento teve realmente o sabor de uma fonte, a fonte VIDA!
Também consegui dormir cedo e leve, o que a bastante tempo não conseguia, permitindo sempre que problemas atrapalhassem a hora sagrada do sono.
E para finalizar esse relato das mudanças que apenas comecei, nada melhor para traduzir-me que a poesia de Alberto Caeiro:

“O meu olhar é nítido como um girassol/Tenho o costume de andar pelas estradas/Olhando para a direita e para a esquerda/E de vez em quando olhando para trás/E o que vejo a cada momento/ É aquilo que antes eu nunca tinha visto/E eu sei dar por isto muito bem...Sei ter o pasmo essencial/Que tem uma criança/Se, ao nascer/Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momento/ Para a eterna novidade do mundo/Creio no mundo como num malmequer/Porque o vejo. Mas não penso nele/Porque pensar é não compreender.../ O mundo não se fez para pensarmos nele/(Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.../Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.../Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,/Mas porque a amo e amo-a por isso/ Porque quem ama nunca sabe o que ama/ Nem sabe por que ama nemo que é amar.../Amar é a eterna inocência/E a única inocência não pensar” (O Guardador de Rebanhos, II).

A vida é boa!