quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Telegrama que trouxe milágrimas

Uma semana atrás chegou meu "telegrama", como sugere a música de Zeca Baleiro. Estava solitária e de repente a campainha tocou. Era ele. Desci correndo pelas escadas desse velho prédio onde moro. Abri as portas e lá estava ele! De mochila nas costas e de braços para o meu abraço.
Foi assim que começou toda mudança no meu complicado universo.
Primeiro ele deitou-me em seu colo e disse baixinho "Pode chorar amor". E nesse momento, confesso, era realmente o que eu mais precisava. Colocar pra fora, chorar, "milagrimar", (se é que Itamar Assumpção me permite transformar em verbo seu substantivo "milágrimas"). Depois, ele me ouviu calado. Desabafei. Culpei. Falei demais. E ele, no momento exato, me fez ver que não há motivos para achar um culpado, mas sim há motivos para aceitar os erros, perdoar...
A semana acabou, e o sábado que era pra ser de sol, Deus quisera que fosse de muita chuva. Com isso, a "Festa da Primavera" da escola parecia perdida. Mas não foi. Ele estava do meu lado. Trabalhou, riu, conheceu meus alunos, se deslumbrou, e sem que eu pedisse, pegou a fila e trouxe-me o tão desejado algodão doce.
Sabe, apesar desse amontuado de pensamentos confusos sobre amor, relacionamento, fidelidade, lealdade e confiança, envolvendo minha família deixar-me tão fragilizada, pequena e até desacreditada, senti que algo além desse mundo queria acontecer dentro de mim. E aconteceu mesmo. É incrível como Deus cria meios para acreditarmos de novo, para renovarmos a fé.
O fato é que, durante a festa diversas pessoas, em momentos diferentes, referiam-se a mim e a ele da seguinte maneira: "Nossa, como vocês combinam!", "Tem traços em comum". Uma amiga mais próxima, "Olha o modo como ele faz, é igualzinho a você amiga!". E me convenci ainda mais quando uma criança nos olhou e disse, "Professora, sabia que vocês se parecem?"
Pode não fazer sentido, mas era uma conspiração afirmando a mim, o tempo todo,
"Acredite no amor!"
Isso tudo me fez refletir que entre ele e eu há um espaço no meio que nos liga, que nos movimenta em liberdade de estarmos juntos, que é sentimento recíproco de amor, de amar.
Se o mundo tenta mostrar a todo momento que as pessoas constroem relacionamentos como castelos de areia na beira da praia, tenho fé suficiente para crer que ondas não desfazem uma casa sólida.
Enfim, depois da "Festa da Primavera" sementes germinam dentro de mim. A semana passou voando. Os dias ficaram mais leves.
Não. Os problemas não foram resolvidos. Tão pouco a dor que sinto recebeu uma sentença. Ela ainda é incalculável. Mas, tenho agora a dádiva de sentir que "a cada milágrimas sai um milagre", e em forma de verbo, ou como bem quis Itamar Assumpção um substantivo, agora isso já não é mais um ato, e sim um fato.


Boa noite,
D.