quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Todos.



"Todos os encontros,
todos os poemas
manda me avisar.
Todos os embates,
todos os dilemas
manda me avisar..."


Esse trecho de Marcelo Camelo na canção "Téo e a Gaivota", me remeteu a profundidade dos sabores e dissabores, de todos os tipos de sentimentos.
De todos eles ando extraindo o melhor.
Percorrendo caminhos largos e becos estreitos, não importa! Indo de encontro com eles, mesmo os mais difíceis, de frente, corpo e alma presentes.
E se ainda assim, esses sentimentos, por mais dolorosos que sejam não me encontrar, por utopia ou pela cegueira cotidiana, por favor, "manda me avisar".
Qualquer coisa que se sinta é composto de vida, é recheado de sintomas dela.
É enfim, tecido de toda, ou pelo menos, alguma sinceridade.

A vida é boa sim, vou relaxar e aproveitar, "manda me avisar"!

"De tudo extraio o melhor,
E mesmo que sobre Dissabor
Junto então toda a cena e faço um poema de amor." (R.Felliciano)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

República Acerola


Lembro da mudança. Um caminhão ainda que pequeno, grande, para os poucos móveis. Lembro da Tia, nos dando "tchau", com lágrimas nos olhos. Lembro da chegada. Do primeiro presente: a geladeira. Do fogão. Dos colchões no chão. De caixotes substituindo armários e guarda-roupas. De dois pratos. De dois copos. De duas irmãs sozinhas. Me lembro de me perder na esquina da rua da nova casa. Do encontro com a minha irmã na rua morrendo de rir. Lembro dos chocolates tentando encobrir toda a carência de casa. Lembro da espera incessante pelas sextas-feiras. Lembro de papai e mamãe aparecerem de surpresa e nos levarem pra "casa". Lembro das visitas queridas: Cris, Marciel, Érica e Gustavo. Lembro da despedida dolorida no domingo à noite. Mais choro, mais aperto, mais chocolate. Lembro de noites inteiras acordada no escuro, com a irmã, recebendo todo afeto do mundo, para doer menos. Lembro do telefonema da Cínthia: "Amiga tem lugar pra mim?". Lembro de sua chegada e com ela o sofá, o computador velho, mas muito útil. Lembro da sua cumplicidade. Lembro de sua calma. Lembro do seu respeito. Lembro da sensação de "melhor amiga do mundo". De comidinhas gostosas preparadas por ela. Lembro das viagens de van para a faculdade. Lembro da família ficar completa: a chegada da Meire, a última, (SEM LUGAR PARA MAIS NINGUÉM!). Pronto. Completávamos "quatro", dividindo o mesmo quarto, e um canto pra lá de especial para cada uma, (e acreditem, isso era possível!) Lembro das duplas formadas "Cínthia e Eu", "Kelly e Meire". Lembro de muitas fotografias nas paredes de casa. Lembro de muitos poemas lidos em voz alta. Lembro de muitos bilhetes. Lembro de muitas cartinhas. Lembro das quatro tomando sol. Lembro de banho de mangueira, melhor do que qualquer piscina olímpica. Lembro do irresistível bife da vizinha “Inha, inha, inha quero bife da vizinha”. Lembro de colher acerolas doces e amargas. Lembro de fazer compras, e pedir o carrinho do supermercado emprestado, para facilitar o trajeto. Lembro dos "porres" juntas, da inédita e única caipirinha de Acerola, com muito mais pinga nessa hora. Lembro de brincar de "Pi", "Escravos de jó". Lembro de xixi nas calças de tanto rir. Lembro dos diários da república, todos os registros, os acontecimentos daquela moradia louca e normal, ao mesmo tempo. Lembro de um, dois, três, muitos chuveiros queimados. Lembro de fazer um bolo e acabar o gás. Lembro da falta de luz, SIM, queimavam as lâmpadas e passávamos um tempo sem repor, afinal, luz para que né?! Lembro dos tombos da Meire com direito a muleta e gesso, muito gesso. Lembro das primeiras reuniões. Trucos, Master, Imagem e Ação, Jogo da verdade, filmes de terror, bebidinhas. Lembro das grandes festas! Música alta de ensurdecer os vizinhos (os chatos e velhos). Lembro da visita da polícia ambiental, (decibéis de som?) Lembro da rede. Lembro das noites deitadas na grama. Ahhhhhh, me lembro da Kelly e da Meire cortando a grama com aquela máquina, Nossa Senhora da bicicletinha! Pânico, terror e aflição de que alguém saísse sem um membro. Lembro de brigadeiros na panela velha. De festinhas de aniversários improvisadas. Lembro das visitas, quase que semanais, dos "estranhos" moradores da República Comurba: Maurão, Jaba, Mocatino, Mastraca e agregados. Da pinga barata. Do limão. Das primeiras paqueras. Lembro das amizades se fortalecendo, intensificando. Lembro de Cínthia e Mauro. De Dayane e Mocatino. Lembro de violão. Lembro de músicas cantadas, gritadas em coro, sussurradas no silêncio da noite. Lembro de barulho. Lembro de sujeira. Lembro de dias intensos de limpeza coletiva. Lembro de pés de acerola. Lembro de namorinhos no portão. Lembro de lasanha semi-pronta. Lembro de miojo. Lembro de macarrão com calabresa. Lembro de pessoas que passaram. Das poucas que ficaram. Lembro das primeiras a irem "embora": Eu, Cínthia. Choro, menos acerolas na casa, mais chocolate para resistir. Lembro da inevitável despedida da tão famosa "casinha". Lembro da rodoviária de Piracicaba. Da rodoviária de Campinas. Lembro que está tudo muito bem guardado, no lugar mais honesto de cada uma que aí morou, que fez história, que compartilhou momentos, que chorou, que sorriu. Lembro de algo que não quer calar, que eu coloco dentro de uma garrafa com capacidade infinita e bebo toda vez que a saudade apertar. E eu sempre lembro. Lembro. Lembro. Lembro...

domingo, 20 de setembro de 2009

A alma na palma.

As mãos balançavam, as duas.
Uma carregando uma sacola que balançava, porque a mão queria, involuntariamente.
A outra não. A outra balançava boba. Solitária. Vazia.
A mão boba que não alcançava o doce,
o anestésico,
nem sequer uma outra mão que lhe ajudasse a atravessar a rua.
Jesus também precisou de uma mão para ajudar a carregar a cruz.
E a mão lá, rente ao corpo carente. Só.
A mão não entende o silêncio.
Mas por que anda sentindo tanto a mão?
Será que todo o cérebro habita dentro de uma palma?
Eu não sei.
Mas agora a alma insiste em caber dentro dela, a palma.
A alma na palma de belezas e medos
pra quê os dedos?
Os dedos sem somar vinte não valem dez.
A vida sem alguém pra encostar um mínimo mindinho não forma um moinho.
E eu?
"Eu acredito em paixão e moinhos lindos."

Caberá?






domingo, 5 de julho de 2009

Alta Fidelidade.

(...) Assisti ao filme "Alta Fidelidade" pela milésima vez. Mas como toda boa obra, nunca é esgotável a interpretação, mesmo que se decore o roteiro, os diálogos.
Bem, o filme está classificado como comédia. Mas é um dos filmes que mais falam de amor, relacionamentos reais e de fidelidade.
Rob e Laura formam um casal com problemas como todos os outros. Mas por incrível que pareça a traição não os torna desleais e infiéis um ao outro. Você pode não entender do que estou falando, a gente nunca quer e não é fácil perdoar uma traição. Mas falo de algo muito mais importante.
Acho que a fidelidade está em primeiro lugar. E fidelidade mesmo é coisa rara! Laura e Rob se permitem à liberdade de tentar, arriscar outros caminhos, quando se sentem pouco doadores de seus afetos um para com o outro (isso é fidelidade!). E é justamente no caminho árduo de uma separação que se descobrem de uma fidelidade realmente sincera, e é aí que mora o amor. Não aquela idéia falsa de que viver bem, preso, calado, sem brigas e sem contradições, seja demonstração de fidelidade.
Um relacionamento "tranquilo", onde o outro sempre cede, onde tudo combina, onde é tudo claridade, é um fato reconhecimento egoísta o "Eu amo você". Isso é previsível, é fácil demais amar assim (...)
Amar o oposto de você, com sua liberdade, vontades, sonhos, gostos, opiniões, religiões, credos e tudo o mais que nos torna únicos, é o que chamo de troca de amor real. Não aquela imagem da novela "Caminho das Índias" onde fidelidade seja a submissão e obediência eterna ao chamado "marido", que aliás tem obrigatoriamente ser chamado de "marido" e nunca pelo nome de registro por banais convenções que, ao meu ponto de vista, nada tem a ver com amor e respeito.
Outro dia, brincando com o Moca (aqueles momentos de falar bobagens e rir juntos das idiotices do outro), ele me disse o que ninguém nunca conseguiu demonstrar com tanta sinceridade. Eu o perguntei,
"Amor como você sabe que me ama? O que te leva a sentir isso por mim?"
Ele me envolveu em seus braços e disse docemente:
"Eu sei disso quando você faz tudo errado..."

Poucas pessoas que eu compartilhei esse momento demonstraram compreender que eu falava de amor sincero. Porque de fato, eu nunca me senti tão amada.

(...)

Alta fidelidade é descobrir nos desprazeres de um relacionamento a disposição de compartilhar alguma coisa sincera se arriscando ser você mesmo, admitir amar no outro mesmo aquela infeliz joanete nos pés e ainda fazer de tudo isso uma listinha “top five” de coisas que tornam o outro singular, a ponto de conseguir com que ele se sinta único no mundo, apesar de todas as imperfeições.

(...)

Aqui vai meu “top five” preferido do filme, quando Rob vê em Laura “fidelidades” grandiosas que ela representa em sua vida:

“As cinco coisas que mais sinto falta na Laura:

Um: Senso de humor. Seco, mas também meigo e bondoso. E o riso dela é o melhor de todos os tempos. Ela ri com todo o corpo.

Dois: Ela tem personalidade. Ou tinha antes desse pesadelo com Ian. Ela é leal e honesta... e não desconta seus dias ruins em ninguém. Isso é personalidade.

Três: Sinto falta do seu cheiro e do seu gosto. É um mistério da química humana, não entendo. Mas algumas pessoas, quanto aos sentidos... parecem ser sua casa.

Quatro: Curto o jeito como ela anda. Como se não ligasse para sua aparência ou como se projeta. E não é que não ligue, é que não se deixa afetar. É o que lhe dá graciosidade.

Cinco: Faz uma coisa na cama quando não consegue dormir. Ela geme e esfrega os pés o mesmo número de vezes. É demais.

Poderia relacionar cinco coisas que me irritam. Mas vem com a variedade feminina, coisas estranhas...e foi pensando nisso que cheguei até aqui.”

(...)

Quantas vezes você declara “Amo você” sem fidelidade nenhuma?

Lembre-se, “alta fidelidade” é uma reflexão diária sobre as “anormalidades” do outro que se tornam primordiais para o reconhecimento de um amor sincero e insubstituível.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vinicius e Gabriell


No começo do ano, no momento de ir embora, descia até o ponto de ônibus e observava que imediatamente os meninos, (principalmente o Vinicius), paravam de brincar no parque para me "cuidar" de longe, até que o ônibus chegasse. Era um olhar compenetrado e muito afetuoso. Que me envolvia e me transbordava a sensação de proteção e aconchego. Então, quando o ônibus finalmente chegava no ponto, eles levantavam suas mãos e me acenavam dando um "tchau", permaneciam assim até que o ônibus sumisse na curva...

O tempo foi passando e a intimidade entre nós cresceu a ponto de sermos mais que professora e alunos.
Hoje, eles descem segurando o meu material e quando chegamos no ponto de ônibus a conversa flui tão agradável que, às vezes, mesmo cansada do dia de trabalho eu torço pro ônibus demorar um pouco mais. Eles me contam sobre suas venturas e aventuras nas ruas do bairro. Me falam de seus segredos de menino, "Professora não conte pra Gabi, mas eu gosto tanto dela...".
Além das conversas que trocamos fico observando muito o olhar deles que não se desligam um minuto do tal ônibus chegar, para que eu não venha a perdê-lo, "Já pensou se você perde professora, cansada como você está?" (...)
Eles são muito amigos, mas ambos morrem de ciúmes um do outro comigo, o Gabriell um pouco mais, capaz de chorar e enfezar numa briga só pra ter certeza do meu apreço imenso. Por outro lado, o Vinicius tira a maior onda com o sentimento do amigo, rindo para deixá-lo sem graça.
(...)
O cotidiano com os meninos tem me ensinado muito sobre o mundo, as pessoas, os sentimentos, as confusões, os sonhos...Ahh, os sonhos! E me faz lembrar fortemente de uma cena do filme "Albergue Espanhol", onde o personagem com uma fotografia de infância nas mãos, (refletindo sobre sua vida), diz mais ou menos assim:
"De todos os meus "eus" esse é o único que não posso decepcionar...".
Acho que estar com as crianças todos os dias me faz pensar como o personagem do filme, e aflorar cada vez mais o meu lado "infantil".
Eu sou um bocado como o Gabriell, sou ciumenta e chorona. Sou exatamente apaixonada como o Vinicius é pela Gabi. Sou bastante cuidadosa para que os amigos "não percam o momento de viver a viagem", sou facilmente enfezada numa briga por aquilo que sinto e acredito...
Pensando bem, eu não quero amadurecer. Os anos se passarão por mim e quero ser convicta que nunca deixarei a minha menina ficar doente dos olhos. Deixarei ela agir por mim toda vez que "o adulto balançar". E sem pudor nenhum e nenhuma vergonha aceito a definição de ser "infantil". Quero chegar bem velhinha e poder me sentir sempre assim, "infantil", afinal:

"Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão..."


Sinceramente,
Daya




quarta-feira, 15 de abril de 2009

Apaixonada


Sabe, hoje é um dia normal. Nada de mais aconteceu.
Trabalho, escola, almoço sozinha, casa, contas, leitura.
Tudo normal.
E mesmo assim, com o dia tão normal e corriqueiro,
me sinto em "tudo" apaixonada por você.
O motivo?
Nada.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Você ama, ou ama muito?



Estive pensando...
As pessoas, (e aí também me incluo), dizem o tempo todo, "Amo muito você". Como se amar já não fosse um sentimento completo.
Não percebemos que não existe amar pouco ou muito, mais ou menos.
Isso me lembra a fala das crianças quando dizem "Professora eu cheguei mais primeiro". E eu sempre digo, "Oras, ser o primeiro já não basta? Como é ser mais primeiro"? É claro que sei o que querem dizer; que chegaram primeiro, antes do outro, só isso. A vantagem é que as crianças estão no processo de aprender conceitos, significados. Um dia vão perceber que "primeiro" não precisa do "mais", pra ser aquilo que se é. Assim, como as crianças, necessitamos aprender que "AMO" é amar e pronto. Sem necessidade alguma de adjetivos.
O amor já é em si o "dom supremo".
Acontece que, o mundo atual está cada vez mais ambicioso por conceitos de "mais", de "maior". O ser humano está numa incessante busca por quantificar as coisas, os sentimentos. É por isso que ando me sentindo cada vez mais "medieval", (como canta Cazuza), "na moda da nova idade média".
Na verdade, muito antes da idade média! Somos tão caretas ainda! Nem ao menos entendemos o sentido da palavra amor. Ser "atual" é entender e praticar o que a Bíblia (um dos livros mais antigos do mundo), nos traz sobre o amor. Sem necessidade alguma de dizer que é necessário "amar muito", por que enfim, amar basta. Na sua complexidade, verdade e beleza.

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistério e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;
não se alegra com injustiça, mas regozija-se com a verdade;
tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo linguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.
Quando era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
Por que, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor"
(I Coríntios 13)






sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Larissa



"Se tu vens, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz", essas palavras do Pequeno Príncipe tornaram-se minhas, mas com a diferença de não ser "desde às três" e sim desde a madrugada de sábado, 7 de fevereiro.
Hoje é um dia muito especial pra mim. Daqui a poucas horas estaremos juntas, Larissa e eu. Isso faz com que tudo tome novas cores, novos nomes, sabores, sensações, deslumbramentos. Meus olhos passam a ter a cidade de Piracicaba uma "eterna novidade". Como na primeira vez que cruzei essas ruas, avenidas, rio, mirante, porto. Nada a partir de sua chegada será automático ou meramente fortuito. Juntas descobriremos o novo, a clarividência. Nos permitindo viver o "carpe diem" com "loucuras sóbrias".
Eu sei que o mundo externo é complicado e o interno é um emaranhado de surpresas, e é por isso que faço das palavras da própria Larissa as minhas, "mas há tanta beleza lá, corpo afora, mundo a dentro, que não posso ousar estragá-la com qualquer minuto que eu passe aqui, trancando versos, sufocando sentires que preciso respirar e exalar no ar, no vento, no tempo... fora da casca do corpo, fora da casa do intro, fora do meu nome, fora do que seja limitado."
Daqui, até a eternidade do tempo que passaremos juntas, seremos sempre jovens e, como bem traduziu Renato Russo, "temos todo o tempo do mundo".
Obrigada Deus, por assim nos permitir.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O que seria do doce se não fosse o amargo?

Passo por pouco mais da metade do período destinado as minhas férias. E entre tantos momentos que tenho reservado para esses dias, __como encontros e reencontros, cumprimentos e despedidas em rodoviárias, leituras, músicas, meditações, orações, cinema, filmes e mais filmes, __ também me permito fazer uma coisa com a cara, o sabor e o tamanho da preguiça "saudável". Falo de nada mais banal que assistir, no meio da tarde de uma segunda-feira, à novela da Sessão da Tarde, mais especificamente "Mulheres apaixonadas". É uma verdadeira delícia. Enquanto assisto, me surpreendo com as inúmeras vontades que perpassam por minha cabeça, durante esse momento "raro" de cultura inútil. E algumas vontades acabam sendo tão contraditórias como os acontecimentos da nossa vida.
Hoje, por exemplo, senti uma vontade que há muito tempo não sentia. Vontade de chupar limão com sal. Pode parecer estranho, mas é uma vontade totalmente ligada a momentos verdadeiramente humanos. Lembranças chegaram-me como algo por acontecer dentro de mim, por simplesmente realizar o desejo de chupar o meu limão com sal. Desde o momento de descascá-lo, até preparar o pratinho com sal um longa metragem, na velocidade da luz, passou por meus pensamentos. Foi como se eu estivesse em cima do pé de limão da casa da minha avó, com todos os primos e a tia mais "audaciosa" conosco, nessa aventura. O fato é que meu pai não gostava da idéia de "chupar limão" pela "lenda" cultural de que limão "afina o sangue", algo que passei a infância inteira achando que era verdade, e só bem mais tarde descobri que isso tudo não passava de "história do imaginário popular". Mas enfim, até conseguirmos subir na árvore, descascar e chupar os limões, muitos risos, frio na barriga e até picadas de formigas faziam parte de toda a trajetória. Era uma árvore bastante grande e me lembro claramente de um dos primos alcançar o topo mais alto e ficar todo orgulhoso por isso. Dalí, surgiam brincadeiras e fantasias, mas tudo envolvendo os limões tão desejados por nós.
A lembrança acabou tornando-se tão forte, que quando me dei conta estava com "água na boca", como a muito tempo não percebia no interior dos lábios. Levei então o limão até a boca e o paladar entregou-se a saboreá-lo.
O mais engraçado de chupar limão para mim, é que sempre que termino de chupá-lo tenho uma vontade incrível de ingerir algo doce, imediatamente. E quando recorri à cozinha da mamãe para ver que doce me satisfaria, deparei com um maracujá. E lá fui eu abrir o maracujá e enchê-lo de açucar. Na primeira colherada, a sensação foi como se nunca antes houvesse sentido tão perfeitamente o sabor de algo doce.
Depois de realizado esse último desejo tive um acesso de risos. Meu Deus! Que louca contradição, limão com sal versus maracujá com açucar. Confesso que fiquei me visualizando de cima, e de repente me veio uma idéia do que somos, ou mais precisamente de como é feita a vida.
Os momentos amargos nos servem de base para valorizarmos os doces, e vice-versa. Amargo, doce, só Deus sabe a dose certa de cada um para a nossa vida. Muitas vezes o amargo é o que primeiro nos traz os sintomas de vida, e é de dádiva divina que saibamos degustá-lo para aprendermos da melhor maneira, e assim, fortalecidos de sabedoria, sair em busca do doce que jamais seria tão doce se não fosse o amargo.