quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"Formigas que trafegam sem porquê"


De uns tempos pra cá, quase todos os dias sou abordada dentro do ônibus, ainda parado no Terminal Central de Piracicaba. E sempre, (sem brincadeira), é a mesma pergunta que me fazem:
"__Moça, esse ônibus sobe a XV?"
Eu realmente não sei o que acontece, e por que isso vem me incomodando tanto.
Mas ontem fiquei pensando "Por que sempre eu?". Tem o motorista, tem diversas senhoras e senhores, estudantes, todo tipo de morador dessa cidade muito antes de mim, e por que justamente eu?
Será que pareço simpática? Bem instruída? Professora?
Será que pareço boa? Inspiro confiança nas pessoas? Por que será, hein?!
Fico com vontade de perguntar depois "Viu, só uma perguntinha, por que você me escolheu pra tirar a sua dúvida sobre a subida do ônibus pela famosa XV de Novembro?".
E se fizesse a pergunta, a pessoa teria uma resposta? Creio que certamente ela responderia: "Não sei!", ou então "Sei lá!".
As pessoas são condicionadas o tempo todo a se olharem e agirem como máquinas ambulantes.
Levam o famoso dito popular "Quem tem boca vai a Roma", ao pé da letra. Ninguém leva em si, enquanto caminha pelas ruas de qualquer lugar, alguma coisa do tipo "Quem vem do lado oposto?".
Enfim, ficaria decepcionada com a resposta, por isso jamais faria a pergunta. Prefiro ficar apenas com uma boa impressão de mim mesma.


(O mais irônico desse fragmento é que cada dia pego um ônibus diferente para ir ao trabalho, o que faz com que eu nunca guarde qual deles sobe ou não a XV de Novembro. Conclusão, vivo dando sempre a mesma resposta, "não sei". Logo, vivo decepcionando as pessoas).