sábado, 25 de setembro de 2010

Sobre estar só.



Um tempo sem escrever, não significa que as palavras deixaram de existir. Muito pelo contrário. Há muitas delas por todo o espaço do corpo, do tempo, das horas, dos sentires...
Talvez tenha me faltado tempo para registrá-las no momento exato. É que tenho dedicado o tempo das palavras ao espaço de viver. Mas elas estão sempre guardadas, às vezes nos fogem, mas uma vez tendo feito parte da gente elas sempre voltam.
Bem, nesse momento elas começam a fazer o regresso. Não sei bem que destino tomarão. Só sei que as mãos obedecem.

Hoje estou sozinha. É sábado.
Estar sozinha é quase raro ultimamente. Num final de semana estou com o Marcos. No outro estou na casa dos meus pais. E em um outro, amigos e irmãs estão aqui comigo. Agradeço sempre muito por tê-los perto de mim, não seria feliz se não os tivessem. Mas há uma prioridade importante, que é quase sempre deixada de lado. Falo de estarmos diante de nós mesmos.
Gosto de ficar de frente para o espelho nesses momentos, tentando ver as muitas que já fui, que ainda sou. De passar a mão no meu rosto e ver que manchas começam a surgir, e que mesmo assim, com toda mudança, consigo ver aquela menina magrela e de cabelo bagunçado, desajeitada no meio de roupas que ao corpo dela não se adequam.
Na verdade, nunca sei se digo no corpo dela ou no meu.
O corpo é mesmo uma roupagem emprestada, talvez desse ponto de vista não deva mais dizer "no meu", por que aquele de outrora não o é mais.
Mas, mesmo assim, eu tenho as minhas lembranças, e o sentimento de ser a menina magrela de roupa desajustada no corpo, essa sou eu, corpo adentro. Ou pelo menos, uma das muitas que sou.
Olhar no espelho, num momento desses, implica em nos ver imersos numa multidão de pensamentos desconexos com a realidade refletida. E isso não é algo ruim, pra falar a verdade acho maravilhoso saber que somente nós podemos nos ver desse ponto de vista.
Gosto de ir mais profundo.
Já parou para se olhar no espelho, sem a intenção de olhar o rosto refletido?
É um exercício bastante difícil. Exige busca interior. Exige deixar "deitar o cimento que é duro", como a vaidade. Exige soltar as rédeas da máscara, que é pregada a cara.
Parar para ver absolutamente como somos, sem roupagem corpo afora.
O fato é que passamos a maior parte da vida apontando o quanto vemos nos outros, ou nos preocupando em como os outros nos veem.

Mas hoje, eu não apontei ninguém, não falei dos outros.
Hoje eu estava sozinha e eu falei de mim, para mim.
Me vi, sem alarmes e sem surpresas.
Vi como sou, nem além e nem aquém.
De frente para o que sou no mundo, sozinha.
E imersa de amor, apago a luz e vou seguir a vida. Percebendo que de nada vale se reconhecer ou não como pessoa, sem a certeza de estar viva, com tudo o que somos e estamos.
Principalmente do amor que a nós sentimos, para seguir em frente e compartilhá-lo com os outros, que mesmo fora do espelho estão embutidos no interior do movimento que os olhos fazem, quando a luz se apaga e o coração acende.

E as palavras saltam-me: Satisfação enorme em estar viva!
Daya